20 fevereiro 2009

Fome: um texto de Machado da Graça

Da coluna semanal de Machado da Graça no "Savana": "Entretanto, nas aldeias as pessoas morrem à fome. Porque não há novas barragens para capturar a água que temos em demasia e se perde no mar. Porque o Estado não tem dinheiro para criar as infra-estruturas que poderiam fazer a diferença entre o que somos hoje e o que já poderiamos ser neste momento. Porque não podemos fugir à realidade: o dinheiro gasto nas obscenas mansões da elite, nos carros de luxo, em toda a ostentação de uma riqueza que a maioria não saberia justificar, é dinheiro que faz falta para melhorar a vida da maioria. E a acumulação continua de forma totalmente descontrolada. Os mais fieis seguidores da Frelimo têm garantidos, para além de chorudos ordenados nos seus cargos no seu partido e nos órgãos do Estado (Assembleia da República, por exemplo) novas mordomias nos Conselhos de Administração de grandes empresas públicas, de cuja gestão nada percebem mas onde estão colocados apenas para receber os opíparos salários. E, entretanto, na base o povo passa fome. Porque o dinheiro não é elástico. Ou vai para um lado, ou vai para o outro. O mesmo dinheiro não pode ir para dois lados diferentes ao mesmo tempo. Portanto, a riqueza ultrajante de uma elite, que se delapida em carros de luxo destruídos todos os fins de semana, em Maputo, por jovens bêbados, é o que falta para criar a escola, pagar o professor e o enfermeiro, construir a represa ou montar a energia eléctrica. Não são coisas separadas, independentes uma da outra. São as duas faces de mesma moeda."

2 comentários:

Anónimo disse...

Machado da Graça: Um Homem de, "antes quebrar que torcer", de ideias claras e transparentes.

Parabéns pela verticalidade e Força para continuar com a mesma postura.

Anónimo disse...

Nada mais certo!!! O Embaixador de um pais europeu, doador do Orçamento do Estado, viaja em classe economica, mesmo quando de visita de trabalho ao seu pais. Entretanto qualquer dos nossos exmos directores nacionais viaja, mesmo pelo maximo de 2 horas dentro do pais em classe executiva, o que mostra claramente quem mais protege o financiamento público dos seus contribuintes. Na verdade o dinheiro do nosso pais não é dos contribuintes nacionais, mas sim dos contribuintes estrangeiros. Assim também custa menos a gastar...
Um abraço à coragem do Machado!!! Pena que poucos sejam capazes de ser tão corajosos!!! (eu incluido)